[GAMEPLAY] Shooting-Star Parte 5-AGORA VAI

Ao sair do orfanato com a escada em mãos, fico de cara-a-cara com a segunda noite nevosa de Gainax. Mesmo tendo visto isso ocorrer ontem, ainda não encaixou na minha cabeça o fato de que em um lugar como esse, no meio da Austrália, está nevando; ainda mais logo na época do natal. É como se Deus achou que, pelo menos uma vez, nesta cidade infernal, um milagre deveria acontecer. Eu imagino como os australianos devem se sentir... Se eu, que sou carioca, estou surpreso com esse show de cores brancas e melancólica, os moradores locais devem estar mais boquiabertos ainda... Hehehe.

Bem, não tenho tempo a perder. Dou uma ajeitada na escada, coloco-a do lado de uma das paredes do orfanato, e começo a subir até o telhado.


"Ok, vamo lá..."

Step. Step. Step. Step.

A cada passo que eu dou nessa escada, por algum motivo, mais receoso eu fico. Eu sei o que eu vou encontrar se eu subir no telhado, logo, por que que eu estou tão nervoso?

...Está surpreendentemente frio esta noite. Talvez seja por isso que estou me sentindo assim. Não sei se é por causa dessa neve estranha ou se é por conta do clima noturno comum de Gainax, mas ainda assim, está mais gelado do que o normal. Nunca pensei que teria que dizer isso, mas ter um olho só tem suas vantagens. Não quero nem pensar em como é ter um floco de neve entrar no seu olho.

Continuo subindo, mas agora vou com um pouco mais de lentidão. Essa neve é até que confortável, agora que estou acostumado a ela... Nem tão fria, mas ao mesmo tempo nem tão quente. É aconchegante... Isso, aconchegante. Dá uma vontade de dormir, aqui mesmo, em pé numa escada... Hahaha, eu tô ficando maluco, só pode. Isso que dá morar nessa cidade.

A distância do telhado até mim vai se reduzindo bastante, a ponto que eu consigo ver tranquilamente meu objeto de interesse.

Um pontinho azul.

Esse pontinho azul logo toma uma forma mais concreta... Uma forma humana. Era um humano com longos, desarrumados cabelos azul-claros.

Ele estava virado de costas para mim, sentado no meio do telhado.

...Ah.

Eu nunca pensei que iria dizer isso, mas aquela visão era algo de outro mundo. Mirabolante. A luz da Lua batendo com aquela cabeleira reluzente, adicionando-se ao contraste que era ver algo tão claro em uma noite tão escura... Nem mesmo o floco de neve mais esbranquiçado poderia ao menos se comparar com o brilho distinto daquele maravilhoso cabelo azul, que misturava-se com o resto do cenário de forma que fosse claro que ele era o ator principal da peça de teatro que ocorria naquele momento.

Não estou enganado ao dizer que nem mesmo a mais bela arte de Vincent Van Gogh poderia ao menos superar o que eu vejo diante de meus olhos.


"...O que que eu tô fazendo?"

Eu não vim aqui pra elogiar o Bryan, eu vim aqui pra chamar ele pra festa! Argh, isso que dá ter que vir aqui num natal. Eu fico todo sentimental nessa época do ano...

De qualquer forma, ao finalmente terminar de subir da escada, vou andando até ele, tomando cuidado pra não escorregar na neve que cobria o telhado.


"Hm... Hmmm... Talvez... Ah, não... Hm..."


"...?"

Agora que eu tô vendo... O que é que ele tá fazendo? Ao redor dele, eu consigo ver inúmeras armas espalhadas ao redor dele. Uma greatsword, uma calibre 22, suas botas com espinhos, sua clava, um monte de outras armas e... Um monte de algemas. De imediato, consigo perceber que esse homem está rodeado de perigo; perigo pra qualquer pessoa que se aproximar dele, claro.

Porém...

Vendo um pouco mais de perto, eu consigo ver...

...Hm.


"Ô Bryan."

Ele... Não me ouviu.


"Ai, cacete..."


"Ô BRYAN!"


"AH MINHA NOSSA JESUS AMADO O QUE ACONTECEU QUEM É VOCÊ?!"

Em um piscar de olhos, depois de meu susto contra ele, ele imediatamente aponta uma shotgun na direção do meu rosto. O dedo dele cabe no gatilho...? Uau, essa é nova. Deve ser customizada.


"Abaixa isso aí. Sou eu."


"Aaaa... Ah! Cebola! Que susto!"

Ele imediatamente coloca sua shotgun no lugar de onde a tirou (numa precisão perfeita, como sempre), e se vira para mim com um sorriso no rosto.


"O que é que houve, meu amigo? Você não estava fazendo docinhos na festa do Senhor Sargento com os seus amiguinhos?"

Então ele já sabia que eu tinha uma confeitaria? Huh. Que inesperado.


"Pois é, né. Eu tava de boa, mexendo nos meus doces e tudo mais... Até que eu percebi que, durante a festa inteira, eu não te vi uma única vez desde que ela começou. Não ouvi a tua voz, não ouvi você rir, não ouvi você andar por aí fazendo algo idiota... Nada. Eu quero é saber o que tu tá fazendo e te levar pra festa pra se divertir que nem uma pessoa decente, mas..."


"...O que que você tá fazendo com esse monte de papel?"

Pois é. Todas as armas dele, espalhadas pelo telhado, tinham algo em comum: todas elas seguravam um monte de papéis A4 abaixo delas; e do lado desse brutamentes, havia um estojo cheio de lápis de cores diferentes. No meio de toda essa neve e vento, ele estava... Desenhando algo.


"..."


"Você... Promete contar pra ninguém?"


"Olha pra mim. Você acha que eu sou do tipo que espalha segredo?"


"...Bem, se é assim, tudo bem."


"...Eu..."




"...Estou escrevendo cartas."


"..."

Em situações normais eu perguntaria pra ele o que diabos motiva ele a escrever cartas no topo de um telhado de um orfanato no meio da noite de natal.

Mas...

A sinceridade e timidez na voz dele me proíbem de dizer isso.

Ele está realmente focado no que ele está fazendo.

...Eu ainda não consigo tirar meus olhos dele.


"...Cartas, hein? São pra quem?"


"...São pros meus amigos da Shooting Star. Do meu esquadrão."


"Huh... Você não é do tipo que se intimida. Por que você não diz pra eles direto o que você tá pensando?"


"Não posso. É por que..."


"...Eu vou ir embora de Gainax em alguns dias. Ninguém que eu conheci aqui jamais me verá de novo."


"...?"

Isso... Me pegou de surpresa.

Eu não tenho motivo algum pra me entristecer com a saída de Bryan daqui. Na verdade, devo até comemorar. Ele já matou tanto cliente meu que não é nem engraçado.

...De fato. Se Bryan sair de Gainax, ele fará um favor imenso para essa cidade decrépita e sem esperança pra qualquer um que não seja gangster.

Na verdade, a morte desse cara seria um favor imenso pro mundo inteiro no geral. Ele mata pessoas por matar. Ele é a própria antítese de tudo em que eu acredito. Ele não discerne o valor entre a vida e a morte, ele é infantil, insano, não tem o mínimo de empatia contra qualquer pessoa exceto aqueles que, milagrosamente, conseguem fazer amizade com ele, e... E muito mais.

Esse homem é uma maldição do diabo posto sobre o mundo humano.

Ainda assim...  


"...Olha, eu não vou te impedir de ir embora, muito pelo contrário, mas... Você consegue me explicar o motivo de você querer sair? De forma que eu entenda, claro."


"Hmmm... De uma forma que você entenda? Deixa eu ver, deixa eu ver..."

Ele pondera por alguns segundos antes de finalmente responder.


"Eu... Finalmente estou livre! Antes eu era um passarinho magricelo e enjaulado, e agora, sou um lindo beija-flor que pode vagar por aonde quiser! O passarinho passou muito tempo na jaula dele e, também, ainda sente um pouco de conforto dentro da jaulinha dele, mas... Ele sabe que há um mundo muito, muito, muito maior do que ele imagina! Fora da jaulinha é onde os sonhos dele podem ser realizados!"


"Uh... Deu pra entender? Acho que não expliquei muito bem..."

Ele está muito mais tímido e reservado do que o normal. Se ele é um passarinho enjaulado como ele próprio diz, então Gainax é sua jaula... Ainda assim, ele tem um apego por ela. E dentro dela, estão os amigos dele da Shooting Star. Claro que ele vai sentir receio de ir embora.


"Deu sim, se preocupa não. Entendi certinho."


"Ohohoho! Que bom!"


"Agora, se eu entendi direito... Você quer sair de Gainax, mas ao mesmo tempo você quer dizer algo pros seus amigos antes de ir embora, certo? E pra isso, você quer escrever cartas pra eles?"


"Sim, sim! Corretíssimo! Você é tão inteligente, Cebola!"


"Eu só falei o óbvio, mas valeu. De qualquer forma..."


"...Qual o motivo de você escrever cartas ao invés de falar o que você quer direto pra eles? Eu ainda não entendi."


"Eu... Quero me despedir deles o melhor possível. Eu quero que cada uma das minhas palavras toque o coração deles, entende?! Eu... Eu não sou muito bom em articular frases coerentes no momento certo, sabe? Eu quero, eu quero que, ao menos, eles consigam entender o que eu sinto. Eu quero que eles leiam minhas cartas e tenham, pelo menos, uma única coisa em que eles irão olhar de vez em quando e... Se lembrarem de mim."


"Eu provavelmente nunca mais vou voltar para cá. Nesse meio tempo que eu tenho sobrando, eu quero ao menos dizer pra eles o que eu sinto... Da melhor forma possível. É por isso que estou escrevendo cartas."


"Eu não confio em mim mesmo para dizer adeus pessoalmente, logo... Essas cartinhas serão minha forma de dizer adeus! En-Entende?"


"...Entendi."

O jeito que ele diz essas palavras é idêntico a um adolescente... Não, uma criança. Ele não sabe como dizer desculpas pro amiguinho brigado, e a única forma que ele acha que consegue se desculpar é por meio de uma carta.

Suas palavras são infantis pra alguém com a aparência dele, mas elas são, sem dúvidas, cheias de amor e vontade. Ele provavelmente está aqui encima faz uma ou duas horas tentando escrever as cartas perfeitas.


"Conseguiu escrever quantas até agora?"


".......................N-Nenhuma! O-Oohhohohohohoho...!"


"Agh, eu imaginava."

De fato, querendo ou não, o Bryan sempre vai ser o Bryan. Mesmo podendo fazer quase tudo com maestria inigualável, mesmo sendo o próprio demônio azul de Gainax... Ele ainda sempre vai ser uma criança boba e ingênua dentro desse corpo assassino dele.

...Bem.

Parece que há só uma única coisa que eu posso fazer.


"Enfim... Se liga. O Pelletier-- digo, o seu Senhor Sargento tá ficando bolado que você não tá aparecendo na festa de natal dele, sabia? Ele quer que você desça lá o mais rápido possível."


"Aaa-aaaah! Mas... Mas eu não terminei de escrever as cartas ainda, Cebola! Eu não posso descer sem ter terminado elas!"

Que horinha que ele escolheu pra escrever essas cartas, hein? Bem, de qualquer forma...


"Eu sei. Imagino que tu nem tem por onde começar direito... Mas ainda assim, tu sabe que hoje é um dia único, não sabe? É natal, porra. Natal é quando a galera se reúne e se diverte, e não fica escrevendo carta de despedida."


"A-Aham..."


"E é por isso..."


(toque essa música em repeat por favor)


"...Que o Tio Cebola vai te ajudar."

Como duas safiras, seus olhos se iluminam ao ouvir minhas palavras.


"S-S-Sério?"


"Eu sei que você consegue ser mais inteligente que a porra do Einstein, mas ao mesmo tempo consegue ser tão burro quanto um peixe dourado. Logo, o que mais eu posso fazer além de ajudar você a montar essas suas cartinhas?"


"Pode parecer até loucura vindo de mim, mas eu ligo pra você, cara. Se eu nunca mais vou te ver pelo resto da minha vida, quero pelo menos te ajudar a fazer algo que você tá tendo dificuldade em fazer."


"E também, não é todo dia que alguém vê o próprio Demônio Azul de Gainax com problema em fazer alguma coisa. O mínimo que eu posso fazer é te ajudar a reorganizar essa sua cabeça e fazê-la expressar de forma coerente o que ela tem dentro."


"Ce... Cebola..."


"E é por isso..."

Sem delongas, arregaço minha manga e dou um pedala na cabeça do Bryan. Sua cabeça é tão dura que o som foi similar a de um estalinho de festa junina. Pela primeira vez em minha vida, consegui acertar um golpe em Bryan.


"A-Ai! Minha nossa senhora!"


"E é por isso que a gente vai acabar essa porra rápido pra tu descer e ir se divertir com os seus amigos, tá bom?! Bora ralar que hoje é natal, porra!"


"M-Mas e os seus amigos da confeitaria?!"


"A rapaziada da confeitaria é barra pesada, Bryan! Se você tá subestimando eles, você tá me subestimando! Agora, foco no papel e no lápis e vamo lá!"


"O-Ok! Entendido!"

E pela próxima meia hora, eu e ele nos esforçamos como nunca nos esforçamos antes pelo resto de nossas vidas. Eu vivi por trinta e um anos e Bryan, dentro da cabeça de maluco dele, provavelmente já viveu bilhões de anos... Ainda assim, é fácil dizer que a construção dessas cartinhas foi a coisa mais difícil e complexa que já fizemos em toda nossa vida.

Foi divertido. Eu e ele nos divertimos construindo essas cartas. Pela primeira vez em anos, sinto que eu e Bryan conseguimos nos relacionar como amigos de verdade. A cada momento, ele me dizia várias curiosidades a respeito dos amigos dele. Pelletier sempre é muito bom em mandar ele matar pessoas; a primeira pichação dele e de Warren Peace foi uma genuína obra de arte; ele se apaixonou por Leon Ivankov desde o momento que o viu segurando uma arma de fogo pela primeira vez; ele nunca se divertiu tanto brincando de médico quando ele curou o dedo quebrado da Pink usando seu carrinho de tijolos; ele jamais vai esquecer a adrenalina que foi ser jogado por Isaac Lazarus na direção de um helicóptero da polícia de Ghibli; e ele nunca sentiu que uma amizade foi tão bem formada do que quando Aimée deu um tiro em sua perna e o arrastou pelo chão de um banco.

Para qualquer pessoa normal, essas memórias causariam nada além de estranheza.

Porém, eu conheço Bryan.

Bryan é uma máquina de morte e sofrimento, mas ainda assim, essa máquina é como uma criança.

Essa criança vive em um mundo perfeito; um mundo onde ele sempre achará felicidade, não importa para onde ele vá.

Esse monstro continuará viajando pelo mundo, causando dor e sofrimento para todos os lados.

Ainda assim, ele continuará sempre sorrindo e se divertindo.

É algo bem melancólico, mas é uma certeza absoluta...

Para nós, pessoas normais, Bryan é uma existência triste; isso é um fato.

Ainda assim, dentro da cabeça dele, onde só ele próprio tem acesso a seus pensamentos e ideais...

Ele crê, fielmente, que vive uma existência feliz.

E com isso, jamais irá perder a felicidade que o motiva a viver.


"Terminamos! Finalmente!"


"Viu só? Não demorou nem mais de meia hora!"


"E eu achando que demoraria mais de sete horas! Você realmente me salvou, Cebola!"


"Porra, sete horas? Tá maluco! Você deveria ter me chamado bem antes pra evitar disso acontecer!"


"D-Desculpa..."


"Ai ai ai... Tá desculpado, seu brutamontes azul. Agora se levanta daí, recolhe as cartas, os outros papéis e suas armas e vamos descer daqui. Não aguento mais essa neve no meu cabelo."


"Entendido!"

Com uma imensa facilidade, eu e ele recolhemos tudo que precisa ser recolhido daqui de cima, e logo nos preparamos para descer. Eu... Eu nem faço ideia pra qual motivo eu trouxe essa escada já que eu consigo pular lá de baixo pra aqui de cima tranquilo... Será que eu tô acostumado demais com essa vida de pessoa normal? Bem, não faço ideia.

De qualquer forma, eu estava prestes a descer da escada, até que...


"...Cebola."


"Hm?"

Ah...

É agora.

Chegou aquela hora do dia em que, sempre que eu encontro o Bryan, tenho que antecipar.

Sempre que eu vejo ele no meio da rua, eu aguardo ansiosamente até o momento em que ele se aproxima de mim, levanta sua perna, e me nocauteia.

Por algum motivo, desde que nós fugimos juntos da prisão, Bryan tem feito questão de me bater sempre que possível. Segundo ele próprio, era "uma prova de que nós seremos amigos para sempre". Até hoje eu não entendi realmente o motivo daquilo ter sido a forma de jurar amizade eterna, mas... É o Bryan. Ele é o único que entende o que está pensando. Logo, não o culpo.

E bem, aqui estamos nós.

Hoje é dia 24 de dezembro. Véspera de natal.

O último dia em que eu e Bryan nos veremos.

Aonde ele vai? Eu não sei. Ele irá continuar vivendo ou, por algum motivo, morrerá amanhã? Eu não sei.

Ele sairá de Gainax e desaparecerá.

Ele viverá como um mistério, um enigma. Ele sairá daqui como um fantasma; um ser que as pessoas dizem que viram mas jamais podemos comprovar se essa é a verdade ou não.

E agora, pela última vez...

Ele irá me bater.


"Sabe, Cebola... Esses dias, eu descobri que tenho mãos."


"Hehehe... É mesmo?"

Isso quer dizer que ele aprendeu a socar? Que fantástico. Não só vou levar porrada do Bryan pela última vez, como receberei uma porrada única, jamais vista antes? Isso é... Ah, isso é ótimo. Nunca quis algo melhor do que isso.


"Sim, isso mesmo."

Ele cerra seu punho.


"Logo... Pela última vez... Eu e você..."


"..."


"...Pode vir."

Eu fecho meus olhos, e abro meus braços.

Se eu quero receber um soco do Bryan, quero um em meu estômago. Abro meus braços o máximo que posso, expondo meu estômago para ele.

E agora... É só esperar.

"Cebola..."

Pode vir, Bryan.

Está tudo bem.

Está tudo-

(pelo AMOR de deus comece a musica ao seguir no 3:48)



"Obrigado."

...Hein?

O que é isso envolvendo meu corpo?

É quente. É muito, muito quente.

No meio dessa neve fria e solitária, eu sinto um calor único. Um tipo de calor que eu nunca senti na vida.

E esse calor é maior do que qualquer verão que já ocorreu na Austrália inteira.

...Bryan...

...Está me abraçando.

Seu corpo imenso cobre o meu com o máximo de ternura que eu já vi vindo dele.

Meus olhos continuam fechados, e eu...

...Sem mais delongas, retorno o abraço.

Eu me lembro.

Eu me lembro do dia em que eu e ele nos conhecemos.

Ele me disse seu nome, e apertou minha mão. O jeito que ele sorriu para mim, me dizendo que ele foi preso por assassinato de mais de trinta e duas pessoas em uma noite.

Aquele sorriso inocente. Aquele sorriso que você não consegue ver matando alguém.

Quando eu o vi pela primeira vez, eu senti ódio.

Eu pensei, "como que um monstro como esses consegue sorrir depois de dizer algo assim"?

Mas... Ainda assim... Depois que eu comecei a entender ele, depois de tanto tempo... Percebi que, monstro ou não, ele é diferente.

Ele é um monstro para nós, mas...

Ele é, no fim do dia, é uma pessoa que entende simpatia.

Depois daquele dia...

Eu...

Eu jamais irei me esquecer da brilhância no sorriso que ele me mostrou naquele dia.