[Second Wind] Parte 2

"Bem, isso é tudo... Boa noite, tomem cuidado e continuem lutando."
Ai bate duas palmas e seu corpos vão lentamente desaparecendo.

___________________________________________________________________________________________________________________________________

Terça Feira 23 de Abril, um novo dia surge em Tokinomiya porém com uma leve surpresa: O chão está tremendo.


Claro o Japão é tectonicamente ativo então isto não é algo muito surpreendente, moveis balançam e uma vibração poderosa se alastra por seu corpo, seus celulares dão pequenos alertas de aviso sobre o fenômeno, sendo que este não é particularmente forte então não é provável que nada seja cancelado devido ao ocorrido.

Na casa de Polly onde ela e Akira se encontram porém alguns pedaços do teto soltam poeira e pequenos fragmentos da construção, sujando o chão com uma fina camada de pó de concreto.

Não muito tempo depois tudo para e o silencio total toma conta, quase como se o terremoto nunca estivesse ocorrido.
E seguido logo depois daquele terremoto que havia tomado o seu lugar emprestado a vida continua.

Polly parece pouco preocupada com o terremoto, até que vê a quantidade de poeira que ele deixou cair.

- AAARGH, SITT! Akira, olhar essa sujeira! - Ela corre e busca duas vassouras, jogando uma contra Akira - Me ajudar a varrer! Mamãe me ensinar que casa tem que ser limpa.

- Oh, okay.

O rapaz pega a vassoura um tanto confuso pela urgência da Polly em limpar, mas não questiona, apenas faz o que foi dito.



- Bem, se meu pai não estivesse no hospital, eu ficaria preocupado com o velhote... Alias, Polly, você disse da sua mãe, tipo, não querendo ser um fodido intrometido e tal mas... Como você veio parar aqui?

Polly para de varrer por um segundo, como se tivesse tomado um choque.

Sem se virar, ela pergunta pra Akira.

- Akira, você acreditar que alguém pode fazer tudo por amor?

Akira continua varrendo até que ele nota a mudança em Polly, que parou de varrer para falar.



- Eu já fiz e vi gente fazendo de tudo por motivos bem menos importantes que o amor, então sim, eu acredito que as pessoas são capazes de fazer tudo.

Polly se apoia na vassoura e suspira.

- Ah... você saber, eu vir da Estonia, né? - ela se senta no sofá, ainda coberto de poeira, apoiando a vassoura na parede. 

- País difícil no interior, muito trabalho, desde de pequena. 

- Um dia vir esse homem, mais velho, bonito, ter muito dinheiro, me mostrar um novo mundo, sabe? Um mundo... fácil, sem trabalhar 12 horas, sem briga, sem grito, xingamento... 

Ela passa o dedo na poeira, evitando olhar Akira nos olhos.

- Meus pais não ser muito atento, as veze seu sumir por semanas e eles nem perceber, só perceber que eu não estar trabalhando, injusto sabe, eu ser criança apenas.

- Eu amar ele, amar muito, me apeguei nele, muito, ele levar na brincadeira, eu ser apenas criança... um dia ele levantar e dizer "Polly, Ma pean koju minema", "Eu tenho que ir pra casa", disse que vir pro Japão, eu implorar pra ele me trazer junto, mas ele não poder... me abandonar...

- Então eu me enfiar num barco, barco de peixe, sair daqui até o Japão, papai conhecer o dono, ele me deixar entrar pra ver barco e eu me esconder com carga, eles me achar, óbvio, mas ai já estar longe de Estonia, ficaram furiosos, disser que iam me trazer de volta quando voltassem, mas quando eles parar no Japão eu correr! Fugir!

- Não dar certo, eu nunca encontrar ele... sabe, Akira, uma coisa que pessoas não ensinar... é que amor passa.

Ela se ajeita e se levanta.

- Depois ser tudo história boba! Viajar a pé, morar na rua, arranjar briga, achar Gamura, essa casa e morrer, undead e agora você morar aqui! Um dia eu ainda encontrar amor, outro amor, eu ter certeza disso.

Ouvir as palavras de Polly deixou Akira pensativo, sobre muitas coisas. Coisas que ele já sabia. Como o quanto o mundo é injusto e quebra tua inocência, e aqueles do topo não se importam com aqueles que vem de baixo, são apenas objetos para serem usados. Sim, o rapaz sabia disso, é uma lição que ele sempre aprendeu durante sua vida, mas Polly apesar de tudo ainda conseguia sorrir e se manter esperançosa, o que deixava o rapaz feliz. Ele se aproxima da mulher e lhe faz headpats suaves.



- Eu tenho certeza que você vai encontrar outro amor, porra tu é tudo de bom tá ligado, é gentil, tem um imenso coração, é bonita e gostosa. Porra mermão, se eu pudesse, eu mesmo me casaria contigo tá ligado?

- ... - Polly encara Akira.

- PBbbfththHAHAHAHAHAHA, você ser muito bom Akira, obrigada, e obrigada pela ajuda de limpar, eu estar bem melhor agora.

- Então, o que você fazer hoje? Eu ir fazer compras, pra festa.

- Não se preocupa, eu me virar, boa aula. - Polly se joga no sofá, e tira o celular do bolso.

- Bem, eu vou sair um pouco mais cedo pra pegar coisas em casa pra trazer pra cá, não posso usar a mesma roupa todo dia nem ficar pelado na sua casa.

Akira tira o celular do bolso e olha para Polly uma ultima vez antes de ir.



- Fique segura, okay? Qualquer coisa mande mensagem.

A representante de classe que estava em sua mesa e parecia desenhar um lobo cinzento em seu caderno para, olha de um lado para o outro e responde em um tom mais baixo com Natsuki.

"A garota da arma de fogo..."
"O que aconteceu?"

Ela dá uma pequena parada quando escuta a noticia, porém sua expressão de total indiferença permanecia.

"...."
"Hmph... Antes de tudo me responda uma pergunta sobre Yoshirou-Daisuke... Watanabe-san nos trouxe uns arquivos da policia com o nome dele anteontem, você sabia que ele era um estuprador condenado?"
"Você sabia que ele levou uma garota do segundo colégio ao suicídio? Ela deixou uma carta acusando ele de tudo."

"..."
Ela para um pouco para pensar quando Natsuki diz que não sabia das circunstancias de Daisuke, dando uma olhada para a direita.

"Certo, vamos comunicar para ela que ela não deveria mais interferir com o time B... E eu também vou pedir uma copia dos documentos e entregar para você, provavelmente ainda hoje."
"Eu suponho que... Foi melhor assim, o mundo não precisa de pessoas como Yoshirou Daisuke."
A garota então dá uma olhada em seu relógio, pede licença a Natsuki e se levanta.


"TODOS SE LEVANTEM!"
"ATENÇÃO!"
"REVERENCIA!"
"SENTEM-SE!"


O professor com cara de cansado então entra na sala.

Aiko aparece mais uma vez em seu quartinho.

Ela suspira e se joga na cama, abraçando um travesseiro.

Tanta coisa que aconteceu na última noite, agora ela tinha um momento para conseguir respirar. Processar com calma tudo o que ocorreu, agora que estava sozinha.

Aiko se encontra sentindo certo alívio nessa notícia. Depois de tudo que ela descobriu, ela foi sentindo cada vez mais desgosto ao pensar nele, e tristeza ao lembrar que já considerou ele um amigo. O pensamento da morte de um companheiro ser algo positivo deixava ela pensando o isso fazia dela. Mas realmente importa? Ele já estava morto, e é um empecilho a menos pro time. Acima de tudo, Aiko não queria acabar que nem ele.

Por mais que ela desprezasse Daisuke e o que ele fez, o que Natsuki decidiu fazer a deixava com um gosto muito amargo na boca. Por um lado, sim, ela livrou o time de uma pessoa que só trouxe discórdia e problemas, e que também fugiu quando as coisas ficaram ruins. Alguém que cometeu atos imperdoáveis com uma garota inocente. O mundo estava melhor sem ele por perto, e sem ele por perto dela. Mas também... 

O fato dela ter matado ele a sangue frio, quando ele precisava de ajuda, sendo atacado pelo time inimigo, e ainda mais quando ele poderia ter impedido, fazia seu peito apertar. Aquilo, aos olhos dela, era desprezível, ainda mais do jeito que Natsuki falou, tão frio, tão sem arrependimento. O fato de um companheiro de equipe estar em perigo e outro integrante ver tudo acontecer e não fazer nada a fazia sentir desgosto, e pior, medo. Medo de que, se ela fosse um pouco mais inútil, quem sabe as pessoas não veriam ela como descartável. 

 Apesar de tudo... somos uma equipe, e todos precisam se proteger, não é? Essa equipe é tudo que temos. Tudo que Aiko tem, pelo menos. Os outros tinham uma vida antes de morrer, escola, amigos, família... mas ela tinha realmente algo? Depois de morrer, parece que ela ganhou mais do que quando estava viva.

'Esse time... isso é tudo o que eu tenho?' Ela pensa.

Ela aperta ainda mais o travesseiro. Realmente, era só isso que ela tinha. Qual foi a última vez que ela teve que se esforçar tanto por um grupo de pessoas? Um grupo que também se esforça por ela, todo santo dia. Somos uma corrente. Todos precisam de todos. Apesar de sentir a raiva de Natsuki que ela sente, Aiko sabia que lutaria lado a lado com ela e faria o possível para protegê-la. Ela era parte importante do time também. Kaoru Aiko sempre foi sozinha, mas agora ela tinha outras pessoas. Ainda mais importante, ela tinha novas responsabilidades. Ela se encolhe com seu travesseiro mais um pouco. Scary Scary aparece em seu lado e fica apoiado em suas costas.

E se, Natsuki visse o que aconteceu com ela aquele dia? Ela teria ajudado? Teria deixado acontecer?

Pior ainda...

E se alguém já tivesse deixado-

"NÃO!" Ela grita em seu travesseiro. "NÃO, eu não posso pensar isso. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso!"

Ninguém estava lá para ajudar, ninguém viu nada, mas se tivesse, teriam salvo ela. Eles são um time. O cabo não vai se partir

Sim. Ela pode mais. Ela fez mais, não é? Hoje mesmo, a própria líder a elogiou. Outros a elogiaram...! 

Isso mesmo, ela não pode esquecer que ainda tem muito que ela consegue fazer.

Ela começou a dar seus primeiros passos mais importantes, agora... agora ela precisa continuar.

Ela levanta rapidamente com o rosto determinado, e joga o travesseiro para longe, pula da sua cama e liga seu computador. A melancolia pode ficar pra outro dia. Por hoje, ela tem muito o que fazer.

Ela manda no grupo do LINE:

Ela também verifica o fórum de novo para ver se teve alguma postagem nova. Scary Scary está deitado tranquilamente em sua cama.

A primeira verdadeira rasura deste diário, que seja a última.

Os últimos dois dias foram os mais caóticos de minha vida de uma forma na qual a única expressão que consigo utilizar é o mais puro e completo caos. Todos estes anos que passei descartando minhas emoções parecem ter sido um grande erro de minha parte. No momento eu me encontro incapaz de não apenas vocalizar minhas emoções como também estou com uma certa insegurança sobre minha aparência. Em Certos momentos meu resto tem se contorcido de uma forma não natural enquanto estou em contato com Kaoru Aiko.

o retorno de meus sentidos também tem atrapalhado em certas situações mais pessoas, recentemente tive uma ereção ao me lembrar da sensação após uma vitória contra um Shadow Body, o que de certa forma me causou certa repulsa. Eu não estou acostumado com estes sentimentos nem com a ideia que eles poderiam ocorrer coma alguém que até 4 dias atrás se encontrava morto por fora e próximo de algo como a morte. Ter tantas opções e sensações e opções diante de mim está se tornando cada vez mais caótico, tão caótico que parece que comecei a buscar válvulas de escape de minhas decisões. Me tornar um undead tem vários desafios mas eu finalmente tenho um mundo novo a minha frente, um mundo que eu nunca pude explorar antes e que agora eu posso sentir cada detalhe, cada segundo, cada relevo e ponta dele.

Kaoru-san me mostrou um videogame com um nome complexo no qual eu me vi entretido por horas até ter que ir para o colégio com a ajuda de Nagasawa.

Talvez algo além da rotina noturna e da escola possa me ajudar.

--||--

Hibiki termina de escrever seu novo capitulo em seu diário mórbido de seu crescimento como undead, e toma alguns minutos para se deitar em sua cama pensando no que escreveu, deixando que os pensamentos marinem dentro de sua cabeça. Quando um horário mais apropriado chega, Hibiki veste seu uniforme e desce para tomar café da manhã com seus pais, no caminho ele nota um empregado arrumando um arranjo de flores que caiu no chão e uma das prateleiras que parece estar um pouco solta.

Hibiki chega a sala de jantar e encontra seu pai sentado comendo um café da manhã americano enquanto lê as noticias em um tablet.


"...Que infortuno..."

O homem está sentado com uma expressão séria e murmurando alguns números que ele lê enquanto seu olhos seguem as palavras na noticia sobre o terremoto que atingiu Tokinomiya. Porém, sua expressão instantaneamente se torna mais solta e feliz quando ele nota que Hibiki veio tomar café da manhã com ele.


"Aah! Hibiki! Bom dia meu filho, conseguiu dormir bem mesmo com o terremoto?"


"A-ah, consegui sim eu... err..."


"Nem sentiu né? Hahaha! Bem, sente-se, tem suco de maçã hoje!"

Hibiki se senta e põe duas panquecas em seu prato. O garoto como devagar e em pequenas mordidas, as panquecas já estão um pouco frias mas ainda deliciosas.


"Ah, pai, a mãe ainda está dormindo?"


"Ah, sim, parece que o Jet-lag foi mais do que ela aguenta normalmente então ela vai dormir mais um pouco."

O pai de Hibiki abaixo o table e toma um gole de café, é possível ver que seu rosto ficou levemente mais vermelho com a pergunta, Hibiki não parece perceber.


"Então sua amiga vai jantar conosco hoje não é? Haha, mal posso esperar, faz tempo que você não se aproxima de alguém, e o fato que você passou aquele dia com ela me enche de orgulho."

Hibiki dá mais um sorriso torto que ele não consegue trazer a tona completamente, mas seu pai entende. Hibiki então Decide pegar um copo de suco de maçã quando percebe que ainda há uma garrafa de café de onde seu pai tem tirado seu suplemento matinal, ele então pega uma xícara na mesa e a enche com café.


"Oy, oy, oy, oy, Hibiki, acho que você pegou a bebida errada, essa aí está bem quente."

Hibiki hesita por alguns segundos antes de responder.


"Eu consigo beber sem me queimar! Se eu assoprar o bastante vai ficar seguro não é?"


"Filho, eu entendo, mas eu não quero arriscar ter você com queimaduras de terceiro grau logo hoje, você está nervoso?"


"Não... eu..."


"Eu quero que você confie em mim! Dessa vez eu quero provar que eu posso!"


"..."

O pai de Hibiki suspira.


"Se você se queimar eu não vou poder confiar em você por mais um tempo. Então me prove que você é um adulto agora."

Os dois conversam um pouco mais sobre o terremoto e sobre os últimos dias até que que Hibiki para de ver fumaça saindo da xícara de café, ele então engole seco, a ansiedade subindo por sua garganta já se preparando mentalmente para o teste final. Hbiki trás a xícara para seus lábios, "Não, ainda não", ele pensa, assoprando mais ainda a xícara de café quente. Quando a bebida parece estar finalmente morna, Hibiki toma um gole.

E depois de alguns segundos.


"BLEH! Café sempre teve esse gosto?"


"HAHAHAHAHA, acho que ainda é um pouco cedo pra você tomar café sem leite e açúcar, meu filho!"

O pai de Hibiki ri mais algumas vezes enquanto passa uma garrafa de leite e um pequeno açucareiro para seu filho. os dois conversam mais um pouco enquanto Hibiki aprende a tomar café com seu pai antes de ir par a escola.

Hibiki não sabe demonstrar, mas ele está feliz.

Hibiki se sente vivo.