[Initialized...] G.O.D. Particle

A tarde calma e sonolenta da equipe de pesquisa se iniciava mais uma vez, conversas curtas entre os membros, comentários cômicos, as vezes uma troca de olhares entre um compartilhamento de chocolate quente. Apesar de terem dias mais puxados para a equipe, hoje era diferente, tão diferente que estavam se juntando para uma maratona de filmes com temas de neve e gelo, uma escolha irônica, e com algumas sugestões questionáveis, mais ainda assim um tempo que ficaria na memória dos membros da equipe como um dia especial para todos.  No entanto, um deles ainda não estava presente, trabalhando em seu turno de observação e fazendo as anotações necessárias em frente ao domo, apertando os botões necessários para conseguir as informações necessárias.



Em seu pequeno laptop, ele preenche a planilha com o horário e as informações apresentadas, algumas vezes com as luzes da camara de observação trocando seu ton para laranja, e as vezes um azul brilhante que quase o cegava, fazendo com que ele precisasse colocar e tirar seus óculos de proteção escurecidos quando necessário, ele continua seu trabalho que normalmente prosseguiria por mais uma hora antes de que a câmara pudesse ser deixada de lado e que ele pudesse se sentar com seus camaradas para uma cerveja sem álcool e alguns filmes intencionalmente ruins. Porém o ton alaranjado que normalmente permanecia por apenas alguns minutos estava brilhando por tempo demais, preocupando homem que anotava as informações mostradas na tela do computador principal.

Até que uma olhada para uma anotação em um post-it, seguida de mais algumas tecladas, e eventualmente de uma olhada no PDF que relatava as instruções de observação fizeram um calafrio descer por sua espinha.

Derrubando o laptop de seu colo, o homem corre de volta para a base, sua roupa para o frio ainda mal colocada, com seus olhos arregalados e sua respiração ofegante ele adentra a base.

Ele então olha para seus aliados, com medo.


"*HUFF* ... *HUFF*... *HUFF*..."

Em seus trinta e três anos, Arnold Hunnigan nunca esteve com tanto medo. Olhando para seus aliados por alguns segundos, que em sua mente pareciam horas, ele sentia o suor em seu pescoço começar a lhe incomodar, puxando-o de volta para a realidade.

Arnold então corre para a sala de comunicações, batendo a porta pós entrar e a trancando.

[Execute>]

"... e não, pela última vez, não quero ver Frozen: Uma Aventura Congelante. Já basta zumbis nazistas. Quantos anos vocês têm? Francamente..."

Yesfir queria apenas tomar seu chocolate quente e esquecer do estresse do trabalho, mas parece que a idade mental de todos que ela encontra é muito abaixo da ideal. Seria ela a última profissional naquele continente? Francamente.
Mas ela respira fundo, pois sabe que todo o esforço de sua vida vai ser eventualmente recompensado. Todas as noites em claro, estudando, trabalhando...

Seu monólogo interno cheio de exposição é interrompido pelo seu colega exasperado. Ela se sente nervosa, mas segura o sentimento dentro de si.



"Arnold? O que foi? Houve alguma anomalia no domo?"

"NÃO É....."

Arnold grita de dentro da sala e depois fica em silêncio por alguns segundos

"...ME DEEM UM MINUTO"

....E então Arnold entra na sala com cara de morte.

"Calma lá, meu bom rapaz-"

Seu Zé fala pelo intercom

"-Senta aqui, toma um chocolate quente, come um pão de queijo, fala pro seu Zé, o que que houve, filho?"

Ao ouvir a voz de Zé, Arnold pode ser ouvido de dentro da sala de comunicações suspirando profundamente antes de abrir a porta, com suor em seu rosto e com o folego recuperado, ele tenta se expressar.


"Eu... Eu...."

Arnold engole seco e limpa um pouco de suor da testa com o braço antes de responder.


"Foi mal, Zé. Provavelmente não é um problema... Provavelmente... Mas... Bem... A leitura atual do domo não diz nada além de que o operador que reportou este acontecimento" - ele engole saliva - "Deve reportar imediatamente e aguardar futuras instruções"

Arnold suspira e olha para baixo


"Então, por favor, poderiam me dar alguns minutos?"

[Execute>]

"Okay agora eu estou ficando meio preocupada."
Louise se levanta, dá uns tapinhas no casacão e respira fundo, antes de tirar a roupa até ficar com só as roupas de baixo.


"Vou pegar uma EV Suit eu vou dar uma olhada no Domo."
A garota dá uma corrida até os armários da base, voltando um tempo depois e ofegante, como se tivesse colocado as roupas a pressa.


Qualquer coisa eu falo no rádio, prestem atenção.
Ela diz antes de por o capacete e ir até o a porta maciça que mantinha o frio impiedoso e mortal do lado de fora.


"Isso aperta a virilha pra caralho santa merda..."

Louise faz seu caminho até a sala de observações do domo, notando as pegadas que Arnold deixou por correr boa parte dele até a base e o que parecem ser alguns papéis amarelados na neve com manchas de café e anotações em caneta mas nada que pareça muito importante que não pudesse ser deixado lá mesmo.

Na metade do caminho, Louise nota que as nuvens acima do domo estão se movendo em um formato circular.



Ao olhar de volta para o domo, uma luz alaranjada parece estar emanando da sala de observações e alguns bips podem ser ouvidos de dentro dela.

"Ah!!! Nom de Dieu!!!!"
Tornados ou furacões não são algo na Antártida, muito menos formações de nuvens perfeitamente espirais em cima do Domo.
Louise ajeita o capacete, liga o botão de comunicação do rádio e o de transmissão de vídeo.


"Galera, olhem minha transmissão agora me digam que vocês estão vendo isso... Arnold?"

"Uh...?"

O que é isso.. não é possível....
Acalme-se, Yesfir. Vamos acessar a situação.



"Louise, o que as leituras dizem? Poderia nos transmitir o feed dos aparelhos?"

Ela se vira para Arnold.



"Por que está sendo tão vago na reportagem de eventos? Seja direto, você sabe o que está acontecendo?"

Louise desengonçadamente tenta ir até um dos aparelhos medidores do lado de fora, afim de olhar as suas leituras.

"Ah... Merde... Merde..."

"Hahahaha, Tudo bem!"

Com um sorriso, Arnold então bate a porta com toda a força e se tranca dentro da sala de comunicações, de dentro, só se pode ouvir de forma abafada o homem gritando algo em alemão, e depois inglês, seguido de silêncio, ou apenas o homem tentando falar mais baixo, deixando os que estão fora da sala completamente alienados sobre o que está acontecendo.

As vezes é possível ouvir o homem gritando novamente sobre protocolos e instruções com numerações específicas, mas no fim, nada que possa ser interpretado como uma explicação do que poderia estar acontecendo dentro do domo ou o que levaria a tanto pânico.

Enquanto isso, Louise observava os equipamentos de fora do domo.





Além das leituras "normais", é possível facilmente ver ver várias mensagens de erro na tela.

Estar próxima ao domo deste jeito, com a porta da sala aberta, deixando que escapasse uma mistura de cores, tanto as que emanavam das telas dos computadores, quanto as que vinham da janela de observação. Não era algo dentro do normal, assim como as nuvens que circulavam em cima do domo, deixando a situação que Louise se encontrava ainda mais bizarra e longe do normal e deveras pacato dia-a-dia da equipe de observação.

Estar perto, ou dentro da sala neste momento era quase como experienciar um episódio dissociativo, Louise sentia como se ao mesmo tempo que estivesse alí, sua mente, mesmo que levemente, se desconectava da realidade, deixando seu medo e coração batendo quase como algo fora de sí, sentindo como se estivesse sendo puxada para dentro da sala, mas não fisicamente, apenas sua mente, ou sua alma.

[EXECUTE>]

"Ah! Se você quiser saber de algo faça você mesma.... sacré-bleu."
Louise respira pesado, dá uns pulinhos e se direciona a sala de observações do Domo.

"Louise já dizia, se quer saber de algo, faça você mesma."

Ela diz, suspirando, numa coincidência engraçada que provavelmente fez a francesa espirrar.
Arnold veio correndo da sala de observações, se ele saiu tão disparado, ele deve ter deixado equipamento para trás. Ele sempre anda com o laptop dele, e estava sem ele quando apareceu ofegante.

O que ele viu de tão horrendo ainda deve estar, pelo menos em partes, neste laptop.



"Irei investigar."

Ela sai em direção à sala de observações.

Ele a acompanha

As nuvens acima do domo continuam a se mover em espiral, se acumulando e formando um única nuvem maior, cada vez mais imponente e cada vez mais cobrindo o sol sobre a região, algo completamente imprevisto nos estudos meteorológicos, especialmente nesta época do ano. O que também contribuía para tornar a entrada de Louise na sala de observações ainda mais intimidador, vendo apenas uma luz azul gentilmente emanar através da porta, ela sentia ainda mais fortemente como se seus movimentos estivessem se desconectando de seu corpo, como se ela se controlasse remotamente.

Adentrando na sala, Louise conseguia ver a janela de observação da anomalia mostrar algo jamais esperado.

Inesperado:

A anomalia era quase como um ataque ao olhar, emanando um brilho azul, apesar de suas cores serem longe disso, ao olhar Louise mal consegue se mover mais, os computadores da sala agora ilegíveis devido a luz que emana da anomalia flutuante, quase como uma pintura distorcida que paira sobre o chão de gelo do ártico, desconectado do resto do mundo. Seu sono mais poderoso que a realidade ao seu redor, sua presença mais intoxicante do que a opressão tecnológica ao seu redor.

Louise continuava observando a anomalia, Yesfir e Lenard podiam vê-la completamente paralisada com a porta aberta mas ainda não conseguiam ver o que esperava dentro do domo.

***

Para os que ficaram dentro da base, agora era possível ouvir Arnold ocasionalmente bater seu punho contra as paredes enquanto gritava algo abafado demais para ser entendido, um certo ton de desespero podia ser sentido, as vezes algumas palavras soltas como "protocolo", "Anomalia", "Coisa", e profanidades em francês e alemão podiam ser ouvidas.

[EXECUTE>]

Louise não sabia se gritava ou chorava ou simplesmente começava a rir, claro a cena em sua frente não era algo normal nem de longeo mas todos os sentimentos da mulher estavam misturados em um turbilhão, ela havia esquecido o que ela veio fazer exatamente dentro daquela sala, sua mente agora estava no aqui e agora mas ao mesmo tempo ela se encontrava novamente nas ruas cobertas de neve de sua cidade natal no Canadá.


"....."
Ela sente que está vendo a si mesma na terceira pessoa, como um filme se desenrolando em sua frente...

Mas se nada sobra na cabeça de Louise então seus instintos femininos irão tomar conta, olhando de maneira objetiva para a cena ela consegue retirar três conclusões de tudo aquilo:

1: Há um bebê na antártica
2:O bebê está flutuando no ar
3: Bebês não deveriam flutuar no ar, muito menos na antártica


"AHH!!! O B-B-B-BEBÊ!!! O BEBÊ!!!"

A cientista, tenta seu melhor a ganhar novamente o controle de seu corpo e....



Segurar a criança em suas mãos.

Louise da de cara com o vidro que separa sala de observações da Anomalia.

"WAAUUGH!!"
Um bonk audível chacoalha o corpo da garota e a foca de volta na realidade, finalmente... Louise está sobre controle novamente, dessa vez no total.

Ela balança a cabeça e checa para ver se o bebê flutuante é realmente real... Fecha os olhos, balança a cabeça novamente... É, o bebê flutuante ainda está ali... Ela ativa o rádio e tenta se comunicar com o primeiro que consiga responder (se é que o rádio vá funcionar dentro da sala.)


"Uuuuuh.... Ahh... Bebê dentro do domo.... Tem um protocolo pra um bebê dentro do domo?"
Nada que ela está falando faz muito sentido, talvez ela não esteja totalmente "ali" ainda? Ou simplesmente nada em seu treinamento tenha a preparado para este tipo de coisa... Claro ela obteve treinamento para lidar com situações envolvendo uma gravidez e um nascimento na antártica mas nada disso incluía o que é que estivesse acontecendo dentro do domo.

Yesfir ignora Lenard a acompanhando, mantendo a postura de sob controle.
Conforme ela chega perto da sala de observações, ela escuta os barulhinhos que Louise geralmente faz quando fica assustada ou surpresa, mas ao mesmo tempo ela também escutava ela falar sobre...



"..bebês? Você escutou isso também...?"
Ela diz pra Lenard.

Ela acelera de leve, e encontra a garota falando sobre bebês... ainda.



"..."

Ela pensa em chamar sua atenção, ma primeiro procura o laptop de Arnold, e assim que o encontra, abre ele.